2.10.13

Yoga Vasistha


Diálogo entre Brahmarishi Vasistha e o Príncipe Rama sobre a Doença (Vyadhi e Adhi) e suas Causas


Por Gonçalo Correia

O Yoga Vasistha

Muitos associam o nome Vasistha a um ásana com o mesmo nome: o Vasisthásana (ardha-vasisthásana na foto em baixo). Porém, talvez desconheçam que esta postura é dedicada em homenagem ao sábio, guru do príncipe de Rama e de seus irmãos. É com a intenção de dar a conhecer um pouco mais sobre Vasistha e os seus ensinamentos que escrevo este texto.
A história do encontro entre Vasistha e Rama pode ser conhecida no Yoga Vasistha, também conhecido por Jnana Vasistham, um tratado onde podemos ‘beber’ dos seus ensinamentos. 
O livro encontra-se dividido em seis secções: vairagya prakaranam (sobre o desapego), mumukshu prakaranam (sobre o comportamento do buscador), utpatti prakaranam (sobre a criação), sthiti prakaranam (sobre a existência), upasanti prakaranam (sobre a dissolução ou quietude) e nirvana prakaranam (sobre a libertação definitiva).
...Na cidade de Ayodhya, no norte da Índia,  podemos visitar um bonito templo, o Vasistha Mandir, que representa o gurukula onde os príncipes viveram, estudaram e aprenderam com este grande mestre.

As instruções transmitidas são muito úteis não só para o estudante de Vedanta como também para o hatha yogi.

Mas quem são aqueles realmente qualificados para estudar esta escritura?

É referido no início deste shástra que o diálogo é dirigido a todos aqueles que sentem suas limitações mas ao mesmo tempo querem ser livres. Que não são totalmente ignorantes mas também não são iluminados. “
  
O diálogo que se segue é um excerto retirado da 6ª secção (nirvana prakaranam).

Diálogo entre Vasistha e Rama sobre sobre a Doença (Vyadhi e Adhi) e suas Causas

“(...) Rama perguntou:
O que são as doenças (vyadhi), e o que são os distúrbios psíquicos (adhi)  e as condições degenerativas do corpo? Peço-lhe por favor, que me esclareça sobre estes assuntos.
Vasistha continuou:
Adhi e vyadhi são fontes de sofrimento. A sua prevenção  é a felicidade, a sua interrupção é a libertação. Por vezes elas surgem juntas, às vezes originam uma à outra, e outras vezes ainda elas se sucedem. A doença física é conhecida por vyadhi, e o distúrbio psíquico causado pelo condicionamento psicológico (neurose) é conhecido por adhi. Ambas estão enraizadas na ignorância e na maldade. Elas cessam quando o auto-conhecimento ou o conhecimento da verdade é obtido.
A ignorância dá lugar à ausência de auto-controlo, e assim é-se constantemente invadido por ‘gosto’ e ‘não gosto’, e por pensamentos tais como ‘eu conquistei isto, eu ainda tenho que conquistar aquilo’. Tudo isto intensifica a ilusão e conduz aos distúrbios psíquicos. 
As doenças físicas são causadas pela ignorância, e simultaneamente, pela ausência total de restrição mental, o que leva a hábitos alimentares e de vida impróprios. Outras causas incluem actividades inoportunas e irregulares, hábitos pouco saudáveis, más companhias e pensamentos perversos. Elas também são causadas pelo enfraquecimento, agitação ou obstrução das nadis, impedindo assim o fluxo livre da força vital (prana). Por último, elas são causadas por um ambiente pouco saudável. Todos elas são, evidentemente, determinadas pelos frutos das acções passadas, realizadas num passado próximo ou distante.
Vasistha continuou:
Todos estes distúrbios psíquicos e doenças físicas surgem a partir dos quíntuplo elementos. Vou agora dizer-te como é que elas deixam de existir. As doenças físicas são de dois tipos: comuns e sérias. A primeira surge devido a causas do quotidiano, enquanto que a segunda é congénita. A primeira é corrigida através de meios terapêuticos medicinais, adoptando também uma atitude mental adequada. Mas o segundo tipo de doença (sérias), assim como os distúrbios psíquicos, não terminam até que o auto-conhecimento seja obtido. A cobra que é vista na corda apenas morre quando a corda é novamente vista como corda. O auto-conhecimento leva ao fim de todos os distúrbios físicos e psíquicos. Contudo, as doenças físicas que não são psicossomáticas podem ser tratadas com o auxílio de medicação, orações, e pela acção correcta, como também por banhos. Todos estes  têm sido descritos nos tratados médicos.
Rama perguntou:
Peço-lhe por favor, diga-me como é que a doença física surge dos distúrbios psíquicos, e como é que pode ser tratada por outros meios que não recorrendo à medicina. 
Vasistha continuou:
Quando há confusão mental, o nosso caminho não é compreendido com clareza. Incapaz de ver o caminho à sua frente, o caminho errado é seguido. Assim, e devido a esta confusão, as forças vitais são agitadas fluindo ao acaso ao longo das nadis. Como resultado disso o prana é esgotado em algumas nadis enquanto que noutras encontra-se bloqueado.
Depois seguem-se os distúrbios no metabolismo, indigestão, apetite excessivo, bem como funcionamento impróprio do sistema digestivo em geral. O alimento ingerido transforma-se em veneno. O movimento natural dos alimentos dentro e através do corpo é detido. Isto dá origem a várias doenças físicas.
É assim que os distúrbios psíquicos levam a doenças físicas. Assim como myrobalan é capaz de movimentar os intestinos, certos mantras como ya, ra, la, va, também podem curar esses distúrbios psicossomáticos. Outras medidas a adoptar são acções auspiciosas e de natureza pura, o serviço a homens santos, etc. Através destes, a mente torna-se pura, e uma grande alegria brota no nosso coração. O fluxo das forças vitais ao longo das nadis passa a fluir como deveria (ou seja, correctamente). A digestão torna-se normal e as doenças cessam. (...)” 

...As duas passagens seguintes também fazem parte da 6ª secção (nirvana prakaram). Os temas de reflexão (mananam) são o auto-conhecimento, o domínio da força vital (prana) e a causa da iluminação, já referidos por Vasistha directa ou indirectamente no diálogo anterior. 


Os dois tipos de Yoga

Vasistha disse:

“O auto-conhecimento é um tipo, o domínio da força vital é o outro. Embora o significado de yoga se refira ao segundo tipo, ambos os métodos conduzem ao mesmo resultado. Para uns, o auto-conhecimento pela investigação e reflexão (vichára) é difícil, enquanto outros consideram o yoga como sendo o mais difícil. Mas a minha convicção é que o vichára é mais fácil para todos, simplesmente porque o auto-conhecimento é aquela verdade sempre presente em nós.” 

O guru e o discípulo

Nesta passagem, shrí guru Vasistha conta a shrí Rama o episódio em que a rainha Cúndálá coloca esforços no sentido de trazer o auto-conhecimento e iluminação ao rei, seu marido. Ele, indiferente, permaneceu ignorante.
“(...) Rama perguntou:
Se até mesmo uma siddha-yogini tão grandiosa como a rainha Cúndálá não pôde trazer o despertar espiritual e iluminação ao rei Sikhidhvaja, como se pode afinal obter a iluminação?
Vasistha respondeu:
A instrução dada a um discípulo pelo seu mentor faz parte da tradição, no entanto  a causa da iluminação reside na pureza da consciência do discípulo. Não é pelo ouvir, nem por actos justos que o auto-conhecimento é alcançado. (...)”


Tradução livre dos excertos,
 do inglês para o português  por Gonçalo Correia
a partir do livro “The Supreme Yoga”, Swami Venkatesananda

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